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quarta-feira, 20 de novembro de 2013

O trabalho dos outros

Uma coisa que aprendi nos vários empregos e funções diferentes que tive é que, SEMPRE, o trabalho dos outros parece mais simples do que é. Costumamos criticar o trabalho do colega, do fornecedor, do cliente, etc. argumentando que é “só” fazer tal coisa para que dê certo. Só que quando nos vemos tendo que realizar o mesmo tipo de tarefa ou operação pela primeira vez é comum entrarmos em pânico. A nossa falta de prática e/ou conhecimento de um ou mais aspectos específicos do trabalho alheio nos faz pensar e ter mais respeito pelo parceiro profissional. Pode ser que, com o tempo, você acabe realizando a tarefa de um modo mais eficaz do quem fazia antes, mas isso requer um aprendizado e uma adaptação.
Motoniveladora (patrola) - Fonte: Wikipédia
Da mesma forma imagino que quando julgamos o trabalho de qualquer pessoa que exerce uma profissão completamente diferente da sua, devemos ter o mínimo de respeito. Sobre este fato, me lembrei de uma história contada por um professor na faculdade. Ele já era um profissional altamente reconhecido no mercado, com ampla formação, um dos maiores especialistas na sua área no Brasil. Pois bem, ele estava numa obra de terraplenagem e não gostou do trabalho que estava sendo feito por um operador de motoniveladora (conhecida pelo público em geral como patrola). Quando ele reclamou, em público, do trabalho do operário este fez um desafio ao professor: “então o senhor me mostra como eu faço”. Pois bem, grande erro, o professor aceitou o desafio. Quando entrou na cabine da máquina, embora soubesse perfeitamente (na teoria) como a máquina funcionava (ela tem um grande número de alavancas e comandos), não conseguiu fazer nada direito. Saiu da patrola humilhado. Quando ele nos contou a história disse que foi a situação mais vexatória da vida dele.

Portanto, sempre que eu olho alguém fazendo uma coisa que eu não fiz ainda, primeiro eu vejo com respeito. Só depois eu penso se de alguma forma eu poderia fazer melhor.

Fonte:
- Motoniveladora: http://pt.wikipedia.org/wiki/Motoniveladora

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Falhas de comunicação (beep...beep...beep...)

Como aprendi a dar valor a espera por uma notícia.

Pode ser que, mais uma vez, a minha memória esteja me traindo, mas neste caso, como em boa parte da vida, o que importa é a história lembrada e não o fato em si. Pois bem, estava eu, num quente domingo de janeiro de 1990 fazendo a prova de redação do vestibular (eu sei que já estava bem velho para o vestibular, mas isso não vem ao caso). O que importa é que até hoje me lembro do tema, era sobre transformações, que estávamos vivendo e que viveríamos no futuro. Como de costume, havia um texto inicial, esse falava sobre a batalha de Waterloo, mais especificamente sobre as transformações que a Europa sofreria com os resultados daquela batalha e da expectativa da chegada da notícia da vitória, ou de Napoleão ou de seus opositores. Aqueles dois ou três dias de espera pelas notícias vindas dos campos da Bélgica foram angustiantes para os habitantes de Londres, Berlin ou qualquer cidade mais distante no continente.
Batalha de Waterloo - Fonte: Wikipédia
Diante do tema e do texto resolvi abordar a transformação das comunicações. Para entendemos melhor, vamos retroagir ao ano de 1990, aqui no Brasil. Para você ter uma ideia, não tinha sido inventado o “WWW”, nem os navegadores da internet. Aliás, a internet era uma novidade que estava restrita aos meios acadêmicos, nem acesso a e-mail as pessoas tinham em casa ou no trabalho. Telefone celular, no verão de 1990 ainda não tinha sido lançado no País. Mesmo o telefone fixo era raro e muito caro. Lembro que em 1994 o meu sogro vendeu a linha de telefone que ele tinha e deu entrada no pagamento do apartamento que ele mora até hoje. TV a cabo também não tinha. O que existia eram mídias mais tradicionais, jornais diários, revistas semanais e alguns canais de TV aberta (normalmente 1 ou 2, nas grandes cidades 4 ou 5) e, é claro, o rádio.
Foi nesse contexto que escrevi a redação comparando a dificuldade de comunicação da época de Napoleão comparada com 1990. E antevi, sem grande brilho, que guerras seriam transmitidas ao vivo pela TV (quem viu a Guerra do Golfo lembra-se disso), mas nem imaginava que seriam transmitidas pela internet como ocorreu na recente Primavera Árabe. Hoje, mais vivido e viciado em tecnologias de comunicação atuais: celular, sms, Skype, Twitter, WhatsApp, etc., anseio por respostas imediatas. Uma ligação não atendida, um torpedo não respondido em 1 minuto, uma mensagem não curtida, são razões para entrar em desespero. Penso: o que aconteceu? Por que ela não atende? Será que vai sumir? E outras hipóteses tão absurdas que não valem o comentário.
Fonte: Deviantart

Para me consolar, resolvi voltar no tempo. Não a 1990, nem mesmo a 1970, quando começou a ter sinal de televisão na minha cidade e nós não tínhamos telefone em casa, mas sim a 1815. Fico imaginando aquelas famílias dos soldados sem patente, que depositaram todas as esperanças nos seus filhos e maridos e ficaram esperando por notícias deles, não dois ou três dias como foram as do resultado da batalha, mas por semanas. A Wikipédia diz que 1 de cada 3 soldados envolvidos na batalha, ou morreu, ou foi ferido, ou foi preso ou, simplesmente, desapareceu. Nessa hora não importa se o soldado era francês, inglês ou prussiano, se era o seu marido e ele estava morto, a vitória não existiu. Pior foram aqueles que desapareceram. Tento me colocar no lugar daquele filho no final da infância esperando esperançoso por notícias do seu pai. Tentando identificar cada soldado que via na rua em busca de notícias que não chegavam nunca. A esperança definhando e a juventude indo embora junto. É nessa hora que eu vejo o quão idiota eu sou em ficar ansioso por uma resposta imediata num gadget qualquer. Quando a relação é verdadeira a comunicação retorna.
"Os Girassóis da Russia" - Fonte: Wikipédia
Para terminar lembrei-me um filme que eu gostei muito quando criança: “Os Girassóis da Rússia”, de Vittorio de Sica, com Sofia Loren e Marcello Mastroianni. O filme não se passa em Waterloo, e sim ao final da Segunda Guerra, mas mostra bem o que a guerra e a falta de comunicação faz com os amores.





Fontes:
- Batalha de Waterloo - Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Batalha_de_Waterloo
- Filme "Os Girassóis da Rússia" - http://en.wikipedia.org/wiki/Sunflower_(1970_film)
- Site de imagens: http://www.deviantart.com/


sábado, 9 de novembro de 2013

Ninguém é 100% livre

Tive uma recente discussão sobre o que é ser, ou pelo menos estar, 100% livre. A minha resposta rápida foi, ninguém é 100% livre. A primeira imagem que me vem à mente é a do fantasma de Jacob Marley todo envolvido em uma enorme corrente, no famoso “Conto de Natal” de Dickens. Na história, cada elo da corrente que Marley carregava era formado por cada ato mesquinho e cada desperdício de vida. Além disso, a corrente de Marley estava presa a pesados cofres, cadeados e bolsas de ferro. Um suplício para toda a eternidade.
Fantasma de Marley aparecendo para Scrooge (fonte: Wikipédia)
Não tenho uma visão tão negativa dos elos que nos prendem. Só acho que, como não podemos viver sem dependermos, de alguma forma, dos outros, ninguém é totalmente livre. Sempre temos uma memória escondida, sempre amamos alguém, sempre devemos um favor, sempre temos as obrigações com os outro que nós criamos ou que aceitamos. Sim, estou falando só daqueles elos que nos prendem por vontade própria. Veja bem, se eu sou um prisioneiro de alguém, mas posso manter livre o meu pensamento eu, pelo menos tenho alguma coisa livre. Por outro lado, se o que me prende é uma ideia ou um sentimento que está dentro de mim, eu não sou totalmente livre. Nem quando eu durmo, ou você nunca teve um pesadelo com o passado?

Todo mundo tem uma mãe, um filho, um marido (ou um ex-marido), um colega, um vizinho ou mesmo um desconhecido que cruzou o seu caminho e que um dia precisou da sua ajuda. Da mesma forma, quem nunca teve que pedir um favor a um estranho, uma moeda para completar um troco, uma licença para usar o banheiro num momento de muito aperto, a gentileza de abrir uma porta quando você está cheio de pacotes nas mãos? Cada evento desses vai criando elos na sua corrente. Mas, do mesmo modo que correntes prendem âncoras que nos impedem de progredir, elas também são usadas em guindastes que nos elevam.

É você que cria as suas correntes e pesos aos quais ela se prende, nunca coloque a culpa em ninguém. Essa culpa atribuída aos outros só cria mais peso. Você, provavelmente, pode ter cometido vários erros no passado, eles também são pesos na sua corrente, e você nunca vai se livrar deles (mesmo que esconda dos outros eles povoarão as suas memórias). Portanto não se torture tanto com os erros do passado, mas também não deixe de correr riscos de cometer novos erros. É correndo riscos que criamos novos elos positivos nas nossas correntes.

Uma pessoa que se sente totalmente livre (não digo aqueles que apenas falam, mas aqueles que realmente acreditam nisso) é alguém que perdeu muito da sua humanidade. Essas pessoas sem empatia são consideradas doentes, psicopatas. Assim, em nome da minha sanidade mental, procuro não ser 100% livre. E você?

Fontes:
- Um Conto de Natal - Charles Dickens (versão integral em pdf): http://www.klickeducacao.com.br/2006/arq_img_upload/paginas/4386/contos_de_natal.pdf
- A Christmas Carol – Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/A_Christmas_Carol

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Heroicos soldados ansiosos

Fonte: Veja na História


Imagino que o primeiro soldado a sair da trincheira, indo de encontro às balas inimigas, prefira a probabilidade da morte quase certa à expectativa, durante dias infindáveis, de um futuro incerto.


Fontes: