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domingo, 30 de junho de 2013

Petróleo e o efeito estufa

Depois de ler uma série de barbaridades escritas por pessoas desinformadas, achei que deveria ajudar a esclarecer um pouco. Assim decidi fazer uma série de posts sobre a gasolina e o petróleo. Procurarei ser o mais imparcial e informativo que eu puder. A minha intenção é dar subsídios a um debate saudável e isento, sem pender demais para A ou B.


Carro Efeito Estufa
Petróleo e efeito estufa
Para quem pensa que farei uma defesa acalorada do petróleo se engana. Contando uma historinha primeiro: há muitos anos tive uma estagiária que entrou num processo de seleção para entrar numa empresa fabricante de cigarros. Na entrevista em grupo o mediador fez a seguinte pergunta: “como você se sentiria em trabalhar numa empresa que produz o principal responsável pelo câncer de pulmão?”. Analogamente eu faço a pergunta: “como você se sentiria em trabalhar numa empresa cujo produto é um dos principais responsáveis pelo efeito estufa?”. Por outro lado, não se pode dizer que o uso de derivados de petróleo como combustível para os veículos de transporte seja o maior responsável pelo efeito estufa como um todo.
Conforme o World Resources Institute as principais atividades geradoras de gases do efeito estufa no Mundo são:
- Geração de Eletricidade e Calor (24,9%) – aqui também entra o petróleo 
- Indústria (14,7%)
- Transporte (14,3%) – embora o petróleo seja a maior fonte, não é exclusiva
- Agricultura (13,8%)
- Mudanças no uso do solo (12,2%)
- Outros combustíveis (8,6%)
- Processos industriais (4,3%)
- Lixo (3,2%)
- Emissões de gases provenientes de equipamentos de pressão (4%)

Para o Brasil, segundo a publicação Economia & Energia e emissão de gases do efeito estufa em equivalente a CO2.
  
Emissão de Gases CO2 no Brasil
Emissões de gases do efeito estufa no Brasil
Considerando-se que a participação mundial do petróleo na geração de energia elétrica é de apenas 7%, enquanto o carvão (bem mais poluente) é responsável por 40% da geração, também não é o petróleo o maior responsável pela poluição neste quesito. No Brasil a composição da geração de energia elétrica é bem diferente como mostra o gráfico abaixo.

Energia Elétrica no Brasil
Fonte: Ministério das Minas e Energia
De qualquer forma, ainda assim os derivados de petróleo são amplamente responsáveis pela poluição provinda dos meios de transporte. Sobre biocombustíveis, é bom lembrar que, atualmente, o Brasil utiliza uma gasolina automotiva com 25% de adição de álcool anidro e um diesel com 5% de adição de biodiesel.

Combustíveis no Transporte
Fonte: O Globo - FGV
Como vemos acima, infelizmente, os derivados de petróleo ainda serão por muito tempo a principal fonte de energia para os transportes. Se você sentiu falta do hidrogênio, informo que, segundo Laurence Smith, não teremos grande representatividade dele antes de 2050.

FONTES DE PESQUISA:
http://www.ecen.com/eee85/eee85p/emissoes_gee.htm
http://oglobo.globo.com/projetos/painelfgv/mat/mat14.asp
http://carolinabrauer.wordpress.com/2011/12/02/petrobras-oferece-curso-sobre-energia-a-jornalistas-de-minas/
https://ben.epe.gov.br/downloads/resultados_pre_ben_2011.pdf
Livro: O MUNDO EM 2050 - Autor: Laurence Smith - Editora: Elsevier

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Nelson Mandela. Um grande homem, mas não um super-heroi.

Super Nelson Mandela

No rastro das notícias sobre o declínio do estado de saúde de Nelson Mandela, o Yahoo colocou uma lista de filmes e séries de TV sobre ele. Vi alguns e de outros nem sabia da existência. Como sempre, fui dar uma verificada nos comentários. Um deles me chamou especialmente a atenção, foi de um tal de Eric. Abaixo eu coloco o diálogo que tive com ele (ocultei as respostas de outros leitores para ser mais focal). A conversa é meio maluca, mas é do tipo que se encontra nos comentários de notícias.


Yahoo Discussão Nelson Mandela
Discussão sobre Nelson Mandela
- Eric (postou): O Mandela foi o símbolo do "apartheid", mas o que não contam é que ele foi preso a prisão perpétua por matar civis e não porque era somente contra a segregação racial. Quem aprende história pelos filmes de hollywood acaba não sabendo dos fatos verdadeiros. Quando terminou o "apartheid" negros tomaram casas, fazendas de brancos, virou uma anarquia geral por lá, tanto que a África do Sul foi considerada capital mundial do estupro e da prostituição. Mas a mídia, precisando de "heróis negros" no politicamente correto, #$%$u o Mandela como um "anjo de candura".
- DeMorais (perguntou): Eric, de onde você tirou a informação de que Mandela "foi preso a prisão perpétua por matar civis"? Procurei na internet e não encontrei, só falam em duas condenações: por viajar ilegalmente ao exterior e incentivar greves (pena de 5 anos) e a segunda (perpétua) por sabotagem e por conspirar para ajudar outros países a invadir a África do Sul.
- Eric (respondeu): DeMorais, ele foi para fora estudar livros de guerra e terrorismo, até aprendeu destruir prédios, acha mesmo que não matou ninguém? Li uma matéria sobre isso ontem, uma americana me mandou a matéria de um site dos EUA, é óbvio que não vão divulgar hoje tais dados, com também estão sumindo de Newport (EUA) os arquivos que comprovam que quem iniciou a escravidão foram os Judeus que foram os grandes comerciantes negreiros. DeMorais, vários fatos históricos são "esquecidos" ou maquiados, inclusive os da Segunda Guerra Mundial. O que você vê hoje é a versão dos vencedores da Guerra como também vê o que eles querem que você veja e pense. Sobre os judeus busca no google George White Jr. 1969, está em inglês. Agora o do Mandela não me recordo de cabeça, mas o artigo é muito interessante e desmente vários mitos. E não são teorias da conspiração, estão todos documentados. Ou simplesmente entra no yahoo dos Estados Unidos, agora que está aparecendo matérias sobre o Mandela, lá eles comentam numa boa esses assuntos, aqui devido ao politicamente correto sou crucificado se comentar, só ler os comentários que mandaram pra mim.
Quando perguntei de onde ele tinha tirado a informação sobre a suposta prisão por “matar civis”, eu realmente queria ter a visão do “outro lado”. Ou seja, daqueles que não têm a mesma opinião que eu. Vamos ver primeiro a história de Mandela.
Cresci vendo notícias sobre o "apartheid" na África do Sul e na antiga Rodésia (atual Zimbábue). Havia certa admiração pelo progresso e desenvolvimento da África do Sul (dos brancos), por outro lado um grande incômodo com a maneira que os negros eram segregados. A pressão internacional era crescente pelo fim da segregação e o Mundo esperava por uma mudança. Ao mesmo tempo ficava no ar a pergunta: o que vai acontecer com o país quando os negros conseguirem a igualdade de direitos? A imprensa tinha sérias dúvidas se não haveria uma guerra fratricida entre os negros, já que não havia muita confiança nas suas lideranças. Mandela, não era uma pessoa “de carne e osso”. Ele era uma “lenda viva”, só tinha fotos antigas dele (quando ele saiu da prisão todos se surpreenderam com os cabelos brancos). Não podiam entrevistar, não tinha declarações. Alguns diziam até que ele já tinha morrido e estavam escondendo o fato. Além disso, dizia-se que ele era comunista (é importante lembrar que ele só foi libertado poucos meses depois da queda do Muro de Berlim) e ninguém queria uma África do Sul comunista (exceto a finada URSS).
O fato é que Mandela foi libertado em 1990. Saiu da prisão com um discurso conciliador, acabou ganhando o Prêmio Nobel da Paz, venceu as eleições para presidente e pacificou o país. A África do Sul não virou o paraíso dos negros, mas também não se tornou o inferno dos brancos. Hoje é só mais um país como qualquer outro (não mais um pária da comunidade internacional), com suas qualidades e problemas já bem conhecidos.
Mas voltemos à minha conversa com o Eric. Começando pela resposta à minha pergunta sobre se ele teria sido preso por “matar civis”. O argumento do Eric de que ele teria ido “para fora estudar livros de guerra e terrorismo” e até teria aprendido a “destruir prédios”, e que por isso teria matado civis é muito fraco para justificar a afirmativa de que ele realmente matou civis. Além disso, ele nunca foi formalmente acusado desse crime, nem mesmo pelo regime do "apartheid". Sobre a relação entre judeus e tráfico negreiro, vou me abster de comentar, primeiro porque não entendo do assunto, segundo porque parece coisa de maluco. No terceiro ponto da resposta ele sugere que eu entre no Yahoo americano para ver os comentários. Eu fiz isso e, realmente, os comentários lá são muito mais racistas do que os que vemos aqui. Vejo algumas razões para isso: a) a imagem do Mandela aqui no Brasil é mais positiva; b) os mediadores do Yahoo gringo são muito mais tolerantes que os nossos; e c) o racismo americano, não sei se é maior, mas é muito mais explicito do que o brasileiro.
Esse pequeno diálogo serviu para reafirmar a minha crença de que o santo de um é o demônio do outro. A História está cheia de heróis de alguns países e que são considerados monstros por outros. Napoleão é o maior herói francês, mas é odiado por russos e espanhóis, Solano López é tratado como um tirano pela historiografia brasileira, mas tem vários monumentos em sua homenagem no Paraguai. Mesmo “super-vilões” como Stalin tem seus monumentos que são reverenciados. Aliás, será que existem mesmo “super-vilões”? Será que nada ficou de bom do legado de Stalin, Hitler ou Gengis Khan? Não tenho as resposta, porém acho que mesmo que eles tenham feito coisas boas, o saldo foi amplamente negativo.
Por outro lado, é razoável se exigir que uma grande personalidade pública seja um santo? Não quero nem citar os exemplos de pessoas consideradas santas pelas diversas religiões. Vamos pensar só em alguns “quase” unânimes e recentes como Gandhi ou Luther King. Cada um deles cometeu seus erros e, mesmo assim, foram muito importantes para a humanidade. Portanto, na minha visão, “super-heróis” ou “super-vilões” só servem para a ficção. Pessoas de verdade são humanos, alguns com H maiúsculo.
Enquanto escrevo este post as notícias sobre Nelson Mandela são de que o seu estado de saúde é critico. Ele está com 94 anos (meu avô morreu com essa idade), pode ser que ele ainda viva mais algum tempo, mas se não tem mais saúde ou consciência não podemos esperar demais. Salve Nelson Rolihlahla Mandela, um grande humano com H maiúsculo, mas não um “super-homem” (e precisa ser?).

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Existem justificativas para o vandalismo?

Uma análise sobre os atos de vandalismo nas manifestações recentes.

Estava lendo a nota da CNBB sobre as manifestações da última semana (Ouvir o clamor que vem das ruas). Quase no fim do texto há uma frase que me fez pensar: “Nada justifica a violência, a destruição do patrimônio público e privado...”

Vandalismo e Terrorismo
Fotos: R7 e G1

Na verdade isso é um engano. Concordemos ou não, existem justificativas políticas e históricas para o vandalismo. Ele vem desde a expressão pura da revolta e da explosão de raiva (como alguém que quebra a casa depois da namorada ter ido embora), até uma ação planejada e coordenada para causar medo e caos, com a finalidade de abalar as estruturas e instituições da sociedade estabelecida. Essas pessoas não consideram essas instituições legítimas, portanto não devem nenhum respeito a elas ou aos seu alegados direitos. Tendo por objetivo final tomar o poder ou, pelo menos, obter vantagens na sua área de atuação. É um instrumento usado por grupos políticos, criminosos, religiosos, ou qualquer um que queira atingir um objetivo pela força, mas que sabe que não tem condições de chegar lá através de um enfrentamento direto. 
É ingênuo pensar que todo o vandalismo é simplesmente um extravasamento momentâneo. Ele, quando feito em grande escala, é, na verdade, um proto-terrorismo. Tornando-se terrorismo a partir do momento que faz a sua primeira vítima fatal. Qualquer um que seja tolerante ou conivente com essa prática está fortalecendo o poder deles. Esses grupos se aproveitam de instabilidades e convulsões sociais, nesse momentos aliciam e cooptam integrantes para a sua causa. Apesar disso, quando não são contidos pelas forças estabelecidas, quase sempre, acabam sendo suplantados por forças revolucionárias mais organizadas e, em geral, acabam aniquiladas por elas. Foi assim em todas as grandes revoltas populares da história. 
Faço votos que não cheguemos à esses extremos. 

Será que é Bullying? (ou, ela não gosta tanto de ir à escola)


Já passava da hora da menina de 11 anos dormir e fui até o quarto para conferir. Me deparo com ela já deitada e coberta, escrevendo em um caderno. Pedi que ela largasse o caderno e dormisse logo. Ela pediu mais um tempinho porque já estava terminando. Pouco depois ela me chama e me entrega o caderno dizendo para eu ler o texto dela, que era assim: 
Qual é a radicalidade disso? Acordar com a cara feia, o cabelo em pé, o pijama amarrotado. Você se arruma, penteia o cabelo, Põe o uniforme, mas, na verdade, quando está indo para a escola já pensando na hora de voltar. 
Você já está na porta da escola, na sua frente passa aquele seu colega que é um chato e que faz sua autoestima baixar. Você chega na sala já pensando como retrucar as ofensas do colega. 

Já existe uma rotina diária. Não tem como evitar. É assustador e a escola se torna um lugar mais parecido com uma rede social, com todos os seus grupos fechados, no qual as pessoas competem para ver que tem mais amigos ou seguidores. 

Texto sobre Bullying


Na hora fiquei com o coração apertado. Mas me segurei e elogiei o texto. Perguntei para ela quem era o menino de quem estava falando. E ela disse: “são tantos que não cabem nos dedos das mãos”. Continuei a conversa e ela contou meio constrangida que se dava bem com alguns e não se dava bem com vários outros colegas. Percebi que ela estava angustiada, mas pedi que ela tentasse dormir logo, dei um beijinho na testa e saí do quarto. Minutos mais tarde ela já estava dormindo. 
Quando eu tinha a idade dela era um dos alvos favoritos das chacotas e implicâncias dos colegas. Sempre fui muito tímido e os outros se aproveitavam disso. Foi difícil e demorado, mas superei. Isso marcou a minha vida. Naquela época não se falava em Bullying. Por outro lado, a lei do mais forte sempre valeu, mas eu não sofria só nas mãos dos meninos, algumas meninas também me incomodavam. Ainda me questiono qual é o limite do que é bullying e do que é, simplesmente, reflexo da sociedade como um todo. Acho que temos que passar por esses desafios na juventude para não cairmos na visão ingênua de que todos são bonzinhos e devem ser “irmãos”. Ainda assim temos o dever de proteger os mais fracos. Pelo menos é o que eu acredito que nos diferencia dos animais selvagens, que simplesmente tentam melhorar as suas condições de sobrevivência na natureza. 
Pela manhã ela acordou mais animada, com o pijama amarrotado. Se arrumou, penteou o cabelo e foi para a escola. Ela é uma ótima aluna, dedicada, engajada, participativa e com boas notas. Espero que possa superar essas dificuldades. Vou tentar sempre estar do seu lado. Entes dela entrar no colégio pedi autorização para publicar o texto dela e dei um beijinho desejando uma boa aula (e no fundo do coração desejando que ela tenha uma boa vida).

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Nem sempre o "jeitinho brasileiro" dá certo (ou a Turma do Peru)


Era uma tarde de sábado perfeita. O tempo estava ótimo o trânsito também. Chegamos bem cedo ao aeroporto e fizemos o check in rapidamente, pois não tinha fila. Logo depois chegaram mais três. O último dos cinco viajantes da “turma do Peru” tinha vindo de carona e estava em algum lugar do terminal comprando revistas. Nada poderia dar errado, a viagem tinha sido exaustivamente planejada, todas as passagens, conexões compradas, albergues reservados, taxas e pacotes para a trilha feitos, lista de contatos, mapas, máquinas fotográficas profissionais, mochilas, botinas, roupas, etc.
A Cia aérea, estrangeira, pedia uma antecedência de 2h para fazer o check in. Faltava pouco menos de 1h para o vôo e o “quinto elemento” não chegava ao guichê da Cia, onde estávamos todos esperando. Eram pais, irmãos e até avós, além dos viajantes, todos ansiosos e excitadíssimos. Afinal, era a primeira viagem do grupo ao exterior, pelo menos sozinhos. Não é todo o dia que um grupo de 5 jovens saindo da adolescência (dois de 17 anos, com as devidas autorizações dos pais, e três de 18) e que se conheceram na universidade, fazem uma empreitada dessas. Além disso, dos cinco, três eram garotas, o que sempre desperta mais receio nos pais quando viajam sozinhas. O grupo surgiu no Facebook e chegou a ter 9 “membros”, mas os outros foram desistindo no caminho. A proposta era uma viagem ao Peru, com direito a Machu Picchu pela trilha das montanhas. Muita aventura e festa. Uma história inesquecível para marcar o ingresso na maioridade.
Alívio geral, faltavam cerca de 5 minutos para as 13h (o voo saia às 14h) quando avistamos o “quinto elemento” chegando acompanhado de seus pais. Finalmente estavam todos juntos. Continuamos a conversar e cumprimentar os pais do rapaz, enquanto ele se dirigia para o balcão. Faltado menos de 0,5 m (não é figura de linguagem) para ele chegar ao guichê, um funcionário (estrangeiro) da empresa fechou o guichê. Diante do espanto do rapaz, o funcionário disse: “são exatamente 13 h e o check-in está fechado”. De início pensei que não era sério, e nem o rapaz achou, tanto que continuou tentando falar com o funcionário (este brasileiro) que fazia o check in. Mas era sério sim, o funcionário estrangeiro continuava dizendo que o check-in estava fechado porque a companhia pedia 2 horas antes do vôo como limite para o check in, e a empresa ainda deu uma tolerância de uma hora. Como era o último vôo do dia, os empregados do balcão estavam dispensados. Consternação geral!!!
Todos nós (e éramos muitos) fomos tentar argumentar com o funcionário, dar aquele clássico “jeitinho brasileiro”.  Tentamos, com toda a simpatia explicar que o rapaz já estava ali, que todos viajariam juntos, que isso que aquilo... Nada adiantou, um pai ameaçou processo, a mãe do rapaz começou a chorar e a se culpar (e também achar que isso era um “aviso” do além). Os seguranças se aproximaram e não saíram mais de perto. É claro que nesse ínterim os outros 4 foram para a sala de embarque. Também falamos no escritório da companhia, e nada. Tentamos falar com o chefe, sem chance. Uma mãe chamou um amigo que é funcionário da INFRAERO, e ele disse que não poderia fazer nada, pois a cia aérea é quem definia quem viajaria ou não nos seus aviões. O resultado é que o avião saiu na hora programada e o rapaz ficou de fora.
Acabamos voltando para nossas casas, mas a história não saía da minha cabeça. Por que aquilo aconteceu? De quem era a culpa? Eu poderia ter feito alguma coisa a mais? Será que foi excesso ou intransigência do funcionário, embora ele dissesse estar respaldo pela direção da empresa? Então me lembrei de um caso que aconteceu comigo. Tinha o voo marcado cedo para irmos para o Nordeste, mas acordamos tarde. Saimos correndo e, no caminho, já no taxi, liguei desesperadamente para o aeroporto, tentando “segurar” a saída do avião. É claro que não deu certo, só conseguimos viajar muitas horas depois. Sim, mais uma vez quem atira a pedra é o primeiro a ter o telhado de vidro. Quantas vezes nós tentamos contornar uma situação apenas com o jeitinho? Quantas vezes, com simpatia e uma conversa mole, procuramos nos safar de uma situação difícil que nós mesmos criamos?
Sinceramente eu me sinto moralmente inferior por toda a vez que eu “dei um jeitinho”. O jeitinho até tem seus defensores que veem algum lado bom nele (coloquei alguns links no final do post). Porém, os argumentos de defesa são muito fracos, apelam para a flexibilidade e a criatividade do brasileiro, que nunca nos deram uma vantagem competitiva em nenhum aspecto. Também se fala que o jeitinho é “uma forma de fugir da opressão dos poderosos”. Convenhamos, tudo é sinônimo de indisciplina e desrespeito às mais primárias regras de convivência. No verbete da Wikipédia encontrei a frase que acho melhor explicar o que penso: Os adeptos do "jeitinho" consideram de alto status agir desta forma, como se isto significasse ser uma pessoa articulada, bem posicionada socialmente, capaz de obter vantagens inclusive ilícitas, consideradas imorais por outras culturas.
Voltando ao rapaz que perdeu o voo, a culpa é dele, é claro. Afinal ele tinha que saber as informações da viagem que ele mesmo deu a ideia (sim, foi ele que criou o grupo no Facebook). Ele foi displicente com as suas próprias responsabilidades. É claro que só tinha 18 anos, mas se tem condições de fazer uma viagem de mais de 20 dias para o exterior, tem que assumir os erros e os acertos. Por outro lado, a culpa também é nossa (sua também). Nós brasileiros compactuamos com essa falácia do “selvagem gentil”, que julgamos sermos e queremos convencer o resto do mundo de que isso nos exime de maiores responsabilidades. Como se tivéssemos que ser sempre tutelados. Num determinado momento da confusão no aeroporto, o funcionário estrangeiro disse: “vocês brasileiros acham que podem sempre passar por cima das normas”.
Mas chega de discurso, e retornemos para a “turma do Peru”. No dia seguinte, os quatro primeiros esperaram em Lima pelo “quinto elemento” que conseguiu ir depois, e lá seguiram a viagem todos juntos. A história deles foi um sucesso, apesar do percalço inicial. Abaixo tem uma foto deles.

Jeitinho Brasileiro nem sempre dá certo


FONTES:
Sites com defesas do “jeitinho”:

Prazer das Coisas Simples (ou urinar pode ser sensacional)



Esses dias o anjo estava lendo “O Livro do Sensacional”. Não sei se é bom, só sei que trata dos prazeres simples do cotidiano, como encontrar o elevador já no andar em que você está. Hoje, especialmente, dei valor a esses simples prazeres.
Tinha uma ultrassonografia de abdômen total, com o objetivo de fazer o monitoramento anual dos meus diversos cálculos renais. Como nas instruções de preparo dizia: “tomar 1 hora antes 4 copos de água e reter urina”, foi o que eu fiz. Não sabia exatamente o tamanho do copo, mas uma hora antes, bebi de uma só vez o conteúdo de 4 copinhos de plástico, daqueles que ficam ao lado do bebedouro. Acho que cada um tem uns 200 ml. E lá fui eu, com quase um litro de água no estômago até a clínica. No estômago, naquele momento, porquê quando eu cheguei na clínica, faltando 15 minutos, a bexiga já estava estourando.
Esses 15 minutos de espera, que acabaram se transformando em 30, foram dos mais longos que eu já vivi. Quando o exame começou o doutor perguntou: tudo bem? E eu respondi, mais ou menos, eu estou tenso porque não aguento mais de vontade de ir ao banheiro. Ele, muito simpático, disse que procuraria ser rápido, mas eu mal escutei quando ele disse que encontrou um pequeno nódulo no fígado, mas que eu “não me preocupasse”. É engraçado quando os médicos encontram algo diferente, que você não sabia que tinha, e dizem isso. É nesse momento que você começa a se preocupar. Só lembro de ter ouvido que ele precisava fazer uma confirmação “pós micção”. Aquelas palavras foram quase mágicas.
SENSACIONAL!!!

Quando retornei do banheiro o meu bom-humor retornou, tanto que não me contive e soltei uma piadinha infame para o doutor: “é menino ou menina?”.